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O TRADUTOR FREELANCER PRECISA DE DIPLOMA UNIVERSITÁRIO?

A teoria, a prática e o mercado da Tradução


Desde que me lancei nesse mundo das redes sociais, pessoais e profissionais, desde que reativei meu blog, tenho recebido correspondências vindas de várias partes do planeta. Normalmente, são jovens desejando iniciar a carreira de tradutor/a, pedindo orientação, conselho, sugestão. Alguns já estão cursando Tradução e Interpretação seja em curso superior, seja em curso técnico. Para alguns deles o português é a língua estrangeira que estão estudando; para outros, é o francês. Por isso me acham nos mecanismos de busca.

E é aí que a complicação começa.

Comprovadamente, tenho mais de trinta anos de estrada como tradutora e como professora de francês, mas foi no Colegial que eu dei meus primeiros passos nessa direção. Há mais de quarenta anos arrumei minhas malas e fui embora para a França. Voltei com três diplomas – Língua Francesa falada e escrita, e Estudos Franceses Superiores.

Tudo isso na pré-história dos computadores e da moderna tecnologia que mudou tanta coisa em nossas vidas.

E é na raça e na prática que estou me adaptando a redes sociais, ferramentas para tradução, modelos mais adequados de currículos, e por aí vai. Só muito recentemente estou me apresentando para o mundo como “Tradutora Francês-Português”. Nos novos formatos, claro!!

Minhas carreiras como arte educadora e como arte terapeuta só não se reduziram a apenas uma linha do meu currículo porque elas me habilitam a transitar por várias áreas da tradução.

Enquanto isso...

Anualmente milhares daqueles jovens que mencionei no início desse artigo concluem seus cursos e querem ou precisam entrar no mercado.

Meu primeiro estranhamento é que eles ignoram tudo o que eu ignorava - eu, que saí da caverna. É isso mesmo? Os atuais cursos de tradução não introduzem os alunos corretamente no uso das modernas ferramentas ou os que me procuram faltaram a essas aulas?

Além dessas ferramentas, há o uso profissional das redes sociais que também é ignorado. A maioria das pessoas conhece o Facebook e o Instagram só para compartilhar fotos de aniversário e mensagens de 'Bom dia'. Tudo bem, estou exagerando!

E o cerne da questão – o conhecimento da língua materna e da língua estrangeira com a qual se pretende trabalhar – como fica?

E é aqui que o meu espanto aumenta.

Não tenho como avaliar o conhecimento da língua materna dos que me escrevem do exterior. Mas é sabido que a Internet provocou grandes mudanças na forma como escrevemos. É tudo muito rápido, abreviamos bastante e, de quebra, há um descuido generalizado com ortografia, gramática, sintaxe... Ops, compliquei?

Esse descuido não acontece só aqui no Brasil. Na França, por exemplo, os professores têm as mesmas queixas. E eu também vejo como é grande parte da “produção” dos franceses, internet afora.

Aos jovens que me procuram eu insisto em dizer que é preciso começar por aí – um estudo sistemático da língua estrangeira com a qual pretendem trabalhar. No caso do francês, com o qual eu tenho mais experiência, as falhas são muito evidentes. Em relação aos brasileiros, desnecessário dizer que o português também precisa ser MUITO aperfeiçoado.

Novamente: como os cursos de Tradução e Interpretação estão preparando seus alunos?

Talvez só em conhecimentos teóricos, uma característica geral dos cursos universitários. Embora eu considere extremamente questionável a tendência capitalista de submeter os estudos universitários ao mercado de trabalho, é preciso encontrar um equilíbrio entre teoria e prática.

Último complicador: o embate entre a formação acadêmica de muitos jovens tradutores e a capacitação daqueles que já estão no mercado, forjada na prática, nos encontros e congressos, na generosidade de muitos que mantêm blogs, grupos no Facebook e sites, fornecendo o que as faculdades ou escolas técnicas não oferecem.

Os testes que agências e outros organismos fazem talvez existam justamente para enfrentar essa realidade.


Bom? Ruim? Não sei, mas todos os que precisam dos serviços de um tradutor, com certeza não olham apenas para a linha “diplomas” no currículo que estiverem analisando!!!

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