Ainda bem que escrevi quase automático. Porque não é automático!
O ato de traduzir envolve complexas operações
mentais e até mesmo emocionais e, embora a tradução
exista desde a Antiguidade - Cícero traduziu textos
gregos para o latim - modernamente criou-se um termo
para o estudo que abarca o processo e a experiência do
ato de traduzir. Trata-se da Tradutologia. O francês
Antoine Berman (1942-1991) foi o primeiro a utilizá-lo,
sugerindo entendê-lo como "a reflexão da
tradução sobre ela mesma, a partir de sua natureza de experiência". (The Scientific
Electronic Library Online - SciELO - uma biblioteca
eletrônica composta por uma
coleção de textos científicos brasileiros).
Em seu artigo O tradutor como uma entidade cognitiva, o professor Michel Politis
pontua importantes aspectos presentes do ato de traduzir.
Politis afirma que, “segundo as teorias ‘clássicas’, o tradutor é um mero transmissor, um
intermediário que intervém no contexto de um ato de comunicação escrita entre pessoas
alófonas(*). Nesses últimos anos, graças aos progressos da psicologia cognitiva e da
colaboração entre tradutólogos e cognitivistas, formou-se progressivamente a
Tradutologia, uma corrente que aborda o tradutor não somente como um transmissor,
mas também como uma entidade cognitiva, isto é, um ser humano que põe suas
faculdades cognitivas a serviço da comunicação multilíngue.”
Para Politis, “essa abordagem enriqueceu o pensamento tradutológico ao tentar
desvendar aspectos até agora ‘escondidos’ ou ‘obscuros’ do sujeito tradutor no momento
em que traduz, indo desde o que ele exterioriza quando se lhe pede para verbalizar
seu pensamento até o que acontece em seu cérebro, em sua alma”.
Graças aos métodos mais sofisticados da psicologia cognitiva, avanços têm sido feitos para
uma compreensão mais abrangente do ato de traduzir. Politis continua, afirmando
que “segundo a abordagem cognitivista, o sistema mnemônico do tradutor,
ou seja, sua memória, representa um papel primordial no tratamento das informações
contidas no texto a ser traduzido”. Ele faz uso de sua memória de longo prazo e da
memória de curto prazo. Essa é conhecida como “memória de trabalho”.
Para Politis, “a realização desse tratamento pressupõe a mobilização de vários recursos
cognitivos do sujeito tradutor, pois se trata de um processo que requer uma infinidade
de tomadas de decisão, em função dos elementos contidos explícita ou implicitamente
no texto a ser traduzido, da situação de comunicação na qual se insere o ato de
traduzir, da bagagem cognitiva do tradutor, etc. Às vezes essas decisões são igualmente
influenciadas pela reação emotiva do tradutor, provocada pela leitura do texto a ser
traduzido. Esse gênero de reação não se limita aos textos literários, mas pode igualmente
se manifestar na tradução de outros tipos de textos com forte conotação emotiva”.
“As pesquisas continuarão, seja aprofundando os campos que já estão sendo estudados,
seja explorando novos campos, apelando a disciplinas até aqui pouco exploradas pela
Tradutologia, como as neurociências. No caso dessas últimas, estamos ainda bem no início, mas ninguém
pode prever o futuro”, conclui o professor Michel Politis.
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