CONVERSA COM MEG BATALHA (*)
1 – O Catálogo Premium de Intérpretes e Tradutores está dando mais atenção à área de Tradução. Conte um pouco qual é a proposta dessa mudança.
Quando criamos o site, pensamos em uma plataforma de intérpretes e os outros serviços seriam oferecidos conforme a demanda fosse surgindo, mas percebemos o quanto a área de tradução é importante e decidimos incluir tradutores em nossa plataforma. Nosso compromisso com a oferta de serviços de qualidade e com valores dignos se reflete também nesta área. Incentivamos o uso consciente de ferramentas de tradução, para que o resultado se mantenha sempre fluente e idiomático.
2 – O que a motivou?
Os pedidos de tradução que entraram pelo site aumentaram muito. Como já temos excelentes profissionais no Catálogo, que além de intérpretes são tradutores, decidimos dar um passo além e cadastrar profissionais que trabalham e vivem da tradução.
O outro ponto é o descontentamento de clientes com a qualidade da tradução. O uso de ferramentas de tradução é insuficiente para a tradução personalizada que muitos clientes requerem: é preciso que o tradutor tenha tato e muita criatividade.
3 – Quando você criou o Catálogo, o que a levou a dar esse passo?
Em 2011, criei o primeiro grupo só de intérpretes no Facebook para discutir os problemas comuns da classe, mas o grupo cresceu muito, hoje somos quase 800 profissionais no grupo Intérpretes de Conferência. Com o crescimento do grupo, percebi que seria muito bacana criar uma plataforma em que mantivéssemos a discussão sobre tarifas, mercado, melhores práticas, ética, em um grupo menor, e que ainda tivesse o lado comercial e de marketing para buscar clientes e oferecer serviços personalizados.
4 – Existe o Catálogo Premium de Tradutores e o de Intérpretes. Como eles se articulam?
O Catálogo é UM SÓ. Em nossa plataforma, procuramos somar competências.
Muitos intérpretes são tradutores, mas em geral preferem o trabalho de interpretação consecutiva ou simultânea. Por incrível que pareça, o perfil dos profissionais é muito diferente. Os tradutores, em geral, trabalham apenas com tradução.
Muitos intérpretes são tradutores, mas em geral preferem o trabalho de interpretação consecutiva ou simultânea. Por incrível que pareça, o perfil dos profissionais é muito diferente. Os tradutores, em geral, trabalham apenas com tradução.
Atualmente, o Catálogo é uma plataforma global diversificada: além de intérpretes e tradutores, temos intérpretes de Libras, audiodescritores, locutores, legendadores, mestre de cerimônias e toda uma gama de serviços que ajuda nossos clientes a divulgarem suas empresas, seus produtos e suas marcas, auxiliados por profissionais competentes e comprometidos com eles.
5 – Qual é a sua visão do setor da tradução e da interpretação hoje? Há diferenças entre o Brasil e os demais países?
Os dois setores são gigantes, oferecem oportunidades de trabalho para milhares de profissionais autônomos e para os que têm empresa própria. O mundo da tradução, pelo que sei, está tomado por agências, que pagam valores cada vez mais ultrajantes para os tradutores. Com o uso de ferramentas de tradução, muitos profissionais aceitam esses valores, porque conseguem traduzir milhares de palavras. Acredito que esse combo de tarifas baixas com cargas de trabalho cada vez maiores pode deixar as traduções sem gosto e sem graça.
O mercado de interpretação no Brasil ainda não está tão degradado. Muitos intérpretes têm empresas e oferecem serviços diretamente aos clientes. As agências também estão bastante presentes. Existem agências do bem, que pagam boas tarifas e oferecem boas condições, e agências que cobram os valores de referência do SINTRA (Sindicato Nacional dos Tradutores) e querem pagar a metade da tarifa para os intérpretes. Como em todos os segmentos, alguns intérpretes aceitam e contribuem para a precarização do nosso trabalho. Eu prefiro não julgar os que aceitam tarifas baixas, pois entrar no mercado é uma tarefa árdua, que exige tempo, paciência e bons contatos. O Catálogo é a primeira plataforma I2B, Interpreters to Business. A rede é gerenciada por mim, mas sempre incluo meus colegas em decisões estratégicas. Os clientes escolhem os profissionais conforme as áreas de atuação e idiomas dos eventos e confirmamos se aquele profissional está apto a prestar o serviço requisitado.
Presença global é essencial para atender clientes globais |
Sobre o mercado internacional, em breve espero compartilhar mais informações: iniciamos recentemente uma análise mais ampla com a ajuda de tradutores e intérpretes correspondentes do Catálogo, mas é preciso amadurecer as comparações.
6 – Qual modelo de negócio que você entende ser o mais adequado para o profissional dessas áreas hoje?
É muito comum que os intérpretes tenham suas próprias empresas, criem sites ou blogs, paguem pelos serviços de marketing e prospecção, em geral com pouco sucesso, pois a venda de serviços com alto valor agregado como o nosso é bastante complexa e poucos são bons em todas as áreas necessárias para obter sucesso. O melhor modelo de negócios é trabalhar em rede ou em pequenos grupos ou escritórios de intérpretes, compartilhando ideias e desvendando o mercado. Associar-se aos Sindicatos, às Associações é uma forma de se proteger dessa crescente precarização dos nossos serviços de interpretação e tradução, entender o mercado e se fortalecer para não sucumbir às tarifas constrangedoras.
Esse formato de rede não é simples. Os tradutores têm uma forma bastante peculiar de trabalhar e os intérpretes também, mas eu acredito que no futuro vamos trabalhar mais em redes compartilhadas, pois essa será a única forma de sermos exitosos e sobrevivermos com salários dignos.
Esse formato de rede não é simples. Os tradutores têm uma forma bastante peculiar de trabalhar e os intérpretes também, mas eu acredito que no futuro vamos trabalhar mais em redes compartilhadas, pois essa será a única forma de sermos exitosos e sobrevivermos com salários dignos.
7 – Conte um pouco da sua carreira como intérprete.
Fiz o curso da Escola Alumni em São Paulo, e tive bastante dificuldade para entrar no mercado. É algo comum aos jovens intérpretes, e decidi que não desistiria da profissão. Tudo começou quando um dos meus clientes, para quem eu fazia tradução, me convidou para seu evento; convidei colegas bem conhecidos no mercado, acho que gostaram do meu trabalho, e passaram a me indicar. Comecei com duas agências e fui treinando para aos poucos me tornar 100% independente.
Sempre pensei na minha carreira como se estivesse trabalhando em uma empresa: fiz um plano de carreira, pensava onde eu queria chegar como intérprete, estudando no Brasil e viajando para países de língua espanhola para adquirir um novo idioma. Acho importante ter dois idiomas ativos e um passivo. Depois do inglês, o espanhol é o segundo idioma mais importante no Brasil, e o francês vem em terceiro. Acho que ter mais idiomas ajuda no desempenho na cabine, expande a nossa visão de interpretação, pois enriquece a nossa produção linguística.
Sempre pensei na minha carreira como se estivesse trabalhando em uma empresa: fiz um plano de carreira, pensava onde eu queria chegar como intérprete, estudando no Brasil e viajando para países de língua espanhola para adquirir um novo idioma. Acho importante ter dois idiomas ativos e um passivo. Depois do inglês, o espanhol é o segundo idioma mais importante no Brasil, e o francês vem em terceiro. Acho que ter mais idiomas ajuda no desempenho na cabine, expande a nossa visão de interpretação, pois enriquece a nossa produção linguística.
Sucesso é felicidade pessoal: paz e amor! |
O sucesso que busco sempre esteve ligado à minha felicidade pessoal, pratico Aikido há 18 anos, faço aulas de tango, o profissional é só um elemento nessa maravilhosa equação da vida. Quando atingi esse objetivo, senti que poderia fazer mais, conectando pessoas de vários idiomas e que vivem em vários países. Foi assim que pensei na rede do Catálogo, que é uma das minha paixões. Cresço como ser humano quando posso ajudar outros colegas a realizar sonhos!
8 – Que sugestão você daria para quem quer iniciar a carreira de tradutor e intérprete?
Acredito que estudar em uma boa escola faz toda a diferença. No Brasil temos poucos cursos de formação, e que ainda por cima não oferecem o que é necessário para sabermos como entrar no mercado. Eu diria que esses cursos são apenas um começo. Depois dessa formação, é importante se conectar com colegas que já atuam no mercado, tentar trabalhar como trainee junto com profissionais que não temem a concorrência e buscar empresas que aceitam contratar trainees. Temos um programa no Catálogo (CAT) de suporte aos trainees, tem sido bem legal! Com o tempo o jovem profissional amadurece até que o mercado o absorve e ele passa a trabalhar em eventos cada vez mais complexos. É um ciclo… como tudo na vida, e como tudo tem altos e baixos, é importante ter paciência, saber receber ajuda e críticas dos colegas mais experientes, no final tudo dá certo !
Revisoras: Nani Peres e Kelli Semolini
Obrigada pela oportunidade Solange!
ResponderExcluirEspero ter contribuído para que o debate seja saudável e produtivo!
Um abraço!
Meg.
Eu é que agradeço!
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